segunda-feira, 9 de outubro de 1995

Revelando Segredos - Desfecho

Durante um tempo, devido  a dor que vi nascer aqui e devido a dor que vi gente trazendo para este lugar, reneguei meu eu. Reneguei descobrir quem sou, como é o formato de meu rosto, porque vivo nesse lugar e porque tudo sei. Tive medo de descobrir e assim como essas pessoas sofrer minha história. A história deles já eram dolorosas o bastante para eles e para mim.

Mas com o tempo vi a mágia voltando pra cá. Vi Chico novamente sorrindo a dramaturgia e o teatro reluzindo o rosto da população. Os velhos tempos foram resgatados como um sonho bom de um passado feliz. Os integrantes da companhia foram sarando seus cortes, até os mais profundos e se reinventando. Não existe mais dor.

Momoco se contentou muito com sua casa e agradeceu com as portas sempre abertas para a comunidade.
Manu deixou de lado a rebeldia e parou de fingir ser quem ela não é- agora já usa roupas coloridas.
Samira entendeu que infelizmente os homens são maus e  que desde os princípios há guerra. Ela continua pregando a libertação e o amor de Deus aos homens.
Roberto encontrou um companheiro. Os dois se dedicam à Dionísio, como único trabalho.
Inaiê melhorou muito quanto a timídez e aqui fez grandes e bons amigos.
Nila além de atriz, agora ensina dança aqui em Dionísio,  numa oficina só dela.
Harley Davidson, cuida junto com Momoco do teatro.
Isabela aprendeu a viver em comunhão, aprendeu a dividir e amar o próximo e não só a ela.

Na reestreia de Dionísio, a chuva veio junto, reafirmando que agora não há fogo que condene  pecados já cometidos. Descobri que Chico sempre olha pra este lugar!

Hoje eu continuo ouvindo os aplausos, vendo as cortinas se abrindo e fecharem inúmeras vezes, vendo as mentiras sendo ensaiadas como verdades e sabe por quê? Logo eu?

Porque eu sou todas as memórias. Eu sou Chico, sou Momoco, sou Manu, Samira, Roberto, Inaiê, Nila, Harley Davidson, Isabela... Sou o passado e o presente de todos que um dia já pisaram aqui. Sou a recordação viva que reside nas paredes da memória de cada um de tudo o que aconteceu. Por isso o sofrimento que também coube a mim. Por isso a face oculta - um rosto que não existe.  Por isso a esperança.

Faço parte da Cia Chico Nercoline e do teatro Dionísio.
Eu sou o que cada um faz questão de nunca esquecer!
Por Chico e Para Chico!
FIM!



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